Falta de abrigo para espera dos ônibus prejudica a vida dos moradores nas periferias de Salvador
Moradores do Nordeste de Amaralina e Tancredo Neves enfrentam chuvas e sol intenso devido a falta de estrutura
A falta de infraestrutura nos pontos de ônibus em bairros periféricos de Salvador tem levado os moradores a enfrentarem situações difíceis, como a ausência de lugares para sentar, exposição ao sol intenso e a necessidade de encarar a chuva para não perder a condução. Esses desafios já fazem parte da rotina de Elisângela Santos, 44, moradora do Nordeste de Amaralina, em Salvador.
Há alguns anos, a rotina matinal da diarista é caminhar até a rua Reinaldo de Matos, no final da linha do bairro, e esperar pelo ônibus da linha 1320 – Pau da Lima x Nordeste. Além dos problemas relacionados às condições dos veículos, Elisângela reflete sobre a falta de um abrigo adequado para aguardar o transporte público.“É precário, a gente fica na frente de mercados, na frente das casas das pessoas, e falta em muitos lugares do bairro a estrutura para nos proteger enquanto aguardamos o transporte”, conta.
Quem também sofre com este problema é o entregador dos Correios, Paulo Roberto Argolo, 55, morador do Pituaçu, mas frequentador assíduo do Nordeste de Amaralina. O servidor destaca que a maior dificuldade é quando chove na capital baiana.
“Quando a chuva cai, a gente tem que correr para os pontos comerciais, caso a gente encontre, calhas das casas, barracas espalhadas aqui no bairro, ver uma forma de se proteger.”
As ruas das periferias costumam ser mais estreitas, mas, para o Paulo, o poder público precisa demonstrar vontade e desenvolver uma política pública adequada para lidar com essa situação, com objetivo de ofertar condições dignas aos soteropolitanos.
“Para mim essa é uma questão de boa vontade, por mais que as ruas sejam apertadas no interior dos bairros, os finais de linhas costumam ser mais largos. E quando o governo, o sistema da prefeitura, deseja realizar alguma obra, ele consegue. Não se pode deixar um povo desabrigado e exposto. Existem deficiências que com um pouco mais de empenho dos governantes podem fazer acontecer”, acrescenta.

No bairro de Tancredo Neves, o problema com a ausência de estruturas para aguardar a condução também é comum. O comunicador popular, Gabriel Silva, 21, destaca que além de caminhar entre 400m - 500m para chegar ao ponto de ônibus, na rua Manoel Rufino, no Arenoso, ele ainda precisa se preocupar com a exposição direta ao sol e ao lixo.
“Quando preciso pegar transporte, lido com o alto tempo de espera e com a sujeira. O ponto de ônibus aqui do bairro fica em frente ao local onde as pessoas descartam o lixo e os usuários são expostos ao mal-cheiro. As placas e a iluminação também são um problema, porque à noite a iluminação é pessima”, desabafa.
A também moradora do Tancredo Neves, Edilene Araújo, presidente da Associação de Moradores, conta que já presenciou muitas pessoas se machucarem nas ruas para pegar o transporte, por causa da irregularidade no asfalto, além da falta de abrigo.
“Já vi e ouvi que pessoas caíram no chão devido às irregularidades das calçadas, elas correndo para se abrigar por causa da chuva e passando por meio de carros e motos. Também lidamos com a falta de segurança pública, várias pessoas já foram assaltadas nas áreas ditas como pontos de ônibus do bairro”, diz.

Segundo a arquiteta Gabriela Santiago, a capital baiana sofre com a chamada “espetacularização do espaço”, que são regiões pensadas e produzidas para atingir unicamente o turismo e o comércio, não tendo uma intenção atrelada às reais necessidades do público.
“A capital baiana tem sido projetada para estimular o consumo e a rentabilidade, fazendo com que a imagem urbana se torne mais importante do que a vivência cotidiana dos seus habitantes. Este movimento explica o porquê de termos áreas centrais e/ou nobres da cidade com tanto investimento em mobilidade urbana, enquanto as regiões periféricas continuam sem ter infraestrutura básica, como os abrigos em ponto de ônibus”, destaca a especialista.
Além disso, a arquiteta afirma ser possível aplicar os abrigos de ônibus em bairros periféricos da cidade. “É fato que a periferia de Salvador é fruto do crescimento urbano desordenado, produzida sem planejamento urbano adequado e se consolidando a partir de assentamentos precários. Contudo, isso não é motivo para que o sistema de transporte público nesses locais continue enfrentando desafios quando se fala em acessibilidade, qualidade e eficiência dos meios locomoção”, explica.
Segundo Santiago, o diálogo com os moradores é algo que deve ser priorizado durante o processo de implantação dos abrigos.“Antes de tomar qualquer atitude é fundamental dialogar com a comunidade para entender as necessidades dos usuários e definir quais são as prioridades para aquele local”, encerra.
Questionada sobre a falta de estruturas para abrigar moradores que aguardam os ônibus nas regiões citadas na reportagem, a Semob (Secretaria Municipal de Mobilidade) não se manifestou sobre o problema enfrentado pelos moradores dos bairros até a publicação desta reportagem.
Reportagem e fotografias de Bruna Rocha
Edição de Rosana Silva e Cleber Arruda
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Problemas visíveis, mas pouco abordados. Ótima reportagem!