[40] Forró da Sucupira mobiliza o Nordeste de Amaralina
Forró da Sucupira agita moradores da Santa Cruz e impulsiona economia local
Em sua 25º edição, o festejo mais aguardado do Complexo do Nordeste de Amaralina diverte e aumenta a renda dos moradores
Todos os anos, no bairro de Santa Cruz, no complexo do Nordeste de Amaralina, os moradores se mobilizam para organizar e realizar o popular Forró da Sucupira, considerado um marco cultural na região.
Originalmente, o Forró surgiu por volta do ano de 1999 para comemorar o aniversário de Pedro dos Santos, ou apenas “Seu Pedro”, como é conhecido na comunidade. Ele, atualmente com 79 anos, organizava as comemorações do seu aniversário no município de Castro Alves (BA), convidando amigos e vizinhos próximos, até que se mudou para Salvador.
O motorista Joselito dos Santos, 59, sobrinho de Pedro, explicou que a festa veio para o Nordeste de Amaralina e começaram a acontecer na Rua Sucupira, onde a família mora.
“Ele tem uma casa no interior mas sempre morou no bairro da Santa Cruz. No início fazíamos uma fogueira no interior, sempre próximo do São João, e juntavámos a família, amigos e vizinhos para comemorar”, contou.
Já no segundo ano de comemoração, a família decidiu confeccionar camisas e batizar a festa de “Forró de São Pedro da Sucupira”. Com o número cada vez maior de convidados, a família de Seu Pedro viu a necessidade de convocar novos organizadores.
Atualmente Seu Pedro vive na cidade de Cruz das Almas (BA), mas seu sobrinho lembra com carinho o quão feliz ele se sente com a dimensão da festa, que teve sua 25ª edição do forró realizada entre os dias 05 a 07 de julho.
“Hoje a família toda se sente muito feliz. Meu tio, apesar da idade, também tem boas memórias da festa e todo ano pergunta sobre a organização, sobre os convidados. Por isso a gente se empenha para entregar uma festa melhor a cada ano”
RENDA LOCAL
Além de proporcionar lazer, o Forró da Sucupira é um importante marco para a economia local. Os moradores encontraram na festa uma oportunidade de aumentar a renda. Alexandre Almeida, representante da Associação União Santa Cruz e responsável pela organização do evento, contou que este ano a festa conquistou novos apoiadores que possibilitaram uma maior participação dos vendedores.
"Os ambulantes não precisaram realizar nenhum tipo de cadastro para vender, mas precisaram participar de algumas reuniões com um patrocinador, que deu crédito para que as pessoas pudessem abastecer o seu isopor, com quitutes e outros produtos para vender durante a festa", disse.
Neste ano, houve uma novidade importante: a inclusão oficial no calendário cultural de Salvador. A introdução na agenda permitiu novidades, como um palco alternativo para pagode e a ampliação da grade de atrações, tudo isso para receber um público aproximado de 10 mil pessoas nos três dias de festa, um recorde quando comparado à edição anterior, com público estimado de 5 mil pessoas.
"Foi uma edição histórica, com recorde de público. A aceitação da comunidade foi ótima, o que refletiu no sucesso e na importância do evento."
PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE
Como todos os anos, a comunidade sempre apoia a realização dos festejos. Com uma abertura tradicionalmente marcada por fogos de artifício, os moradores classificam a festa como um momento importante de lazer.
O motorista de aplicativo Edson Silva, 25, participou dos três dias e falou sobre a importância de viver um “momento de respiro” no bairro.
“Foi meu momento de lazer, um respiro. A gente passa a semana toda trabalhando, cansado, e é importante poder curtir uma festa bacana assim perto de casa, sem precisar pagar transporte para se divertir”.
Edson comentou ainda sobre a importância da comunidade abrir espaços para que os empreendedores locais possam trabalhar e comercializar seus produtos para os seus próprios “vizinhos”.
“Compramos de nós mesmos e isso ajuda muito o comércio a crescer. Consumimos os produtos do nosso próprio bairro e isso é massa”, pontuou.
A estudante de enfermagem Evelyn Reis, 20, contou que frequenta a festa desde os 05 anos de idade com os pais, e pretende passar o costume para as próximas gerações.
“Eu amo o Forró. É muito bom ter uma festa assim pertinho de casa. Meus pais me trouxeram quando criança, e hoje, adulta, eu pretendo um dia trazer meus filhos também”.
Ivaldo Bastos, 62, conhecido pelos moradores como 'Val do pastel', viu o Forró da Sucupira nascer, fala sobre a expectativa para o evento.
“Assumi o bar do meu pai desde 2008 quando ele faleceu, e essa é uma festa que eu sempre espero em todos os anos. Os ganhos nos dias de festa equivalem a praticamente uma semana de vendas. Só nos três dias de festa aqui nós lucramos o que só iríamos conseguir em dez dias”, disse.
Atualmente, Ivaldo trabalha no bar acompanhado da esposa, Maristela dos Santos, 61, que fica responsável por fazer lanches e salgados. A organização do estoque do bar do casal começa a ser feita com uma semana de antecedência, com uma quantidade de produtos três vezes maior do que em dias comuns.
Como ponto de melhoria, o comerciante destaca a falta de organização das barracas nas ruas que dificulta a circulação das pessoas na festa.
“Acho que tem muita barraca, precisava ser mais organizado. Não precisa tirar ninguém, mas as barracas muitas vezes atrapalham até o pessoal que está andando”, pontuou.
Apesar do lucro de Ivaldo, o ambulante Sérgio Souza, 49, contou que cerca de 70% da sua mercadoria não foi vendida. Sérgio vende churrasco na Praça do Vale das Pedrinhas há aproximadamente 23 anos, e todos os anos se desloca para Santa Cruz para fazer uma renda extra no Forró.
“Infelizmente esse foi o pior ano para muitos ambulantes. Eu vendo no Forró há mais de 10 anos e nesta edição, fiz um investimento de R$2.500, mas voltei com 70% da minha mercadoria”, contou.
Sérgio pontuou que percebeu essa mesma dificuldade nas vendas de outros colegas ambulantes que estavam no local. O ambulante acredita que o resultado negativo das vendas se deu por conta do período em que a festa costuma acontecer.
“Eu acho que o Forró da Sucupira deveria adotar uma nova estratégia. Deveria começar antes do São João, quando o pessoal está com dinheiro e quer curtir as festas. Como é sempre depois, não temos garantia de que as pessoas ainda têm dinheiro para gastar.”
PRÓXIMA EDIÇÃO
O Forró da Sucupira começa a ser organizado logo após o Carnaval, com a Associação União Santa Cruz iniciando os trâmites para obter as licenças necessárias e negociar com as atrações.
"Os preparativos são intensos e começam cedo. O sucesso desse ano nos motiva a melhorar ainda mais na próxima edição", disse Alexandre, destacando que a dedicação da equipe organizadora e o apoio da comunidade são essenciais para que haja uma festa ainda maior nos próximos anos.
Reportagem de Laís Lopes
Edição de Cleber Arruda e Rosana Silva
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