[39] Sambadeiras do Nordeste de Amaralina
Sambadeiras mantêm viva a história do Samba Junino no Nordeste de Amaralina
Grupo percorre bairros da capital baiana dançando samba junino
Se há samba em Salvador, é garantido que as Sambadeiras do Nordeste de Amaralina estarão presentes. Segundo Roseni do Nascimento, 42, fundadora do grupo"samba é vida, o samba liberta, afinal, quem não ouve um bate-lata e sente o corpo mexer por dentro?". Essa é a descrição dela sobre a energia dos sambas juninos da capital baiana.
Composto por 11 mulheres e 2 homens, o grupo das Sambadeiras do Nordeste de Amaralina foi fundado oficialmente em maio deste ano, mas o desejo de fazê-lo é pensado há anos.
“Cresci vendo os sambas juninos da rua onde moro, amava e sempre fazia tudo direitinho em casa para não ser proibida de ir. Quando me tornei mãe e vi aos poucos esse movimento se perdendo para as canções que depreciam as mulheres, fiquei pensando em como retornar aquilo de antes e, aos 42 anos, me senti segura para tocar o projeto”, contou Roseni, mais conhecida como Rosy Bombom.
O samba junino é uma manifestação cultural típica de Salvador, que ocorre durante os festejos de São João em forma de arrastões pelas ruas da cidade, onde músicos e grupos de sambadeiras percorrem diversos bairros.
O samba tradicional trazido da cidade de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, também se mostra vivo nas sambadeiras, representado por Vânia da Conceição, 42, e seu filho Diego Estevão, 15, ambos membros ativos do grupo de samba.
“A minha avó era sambadeira na cidade de Cachoeira. Eu apreciava muito, mas nunca tive vontade de participar. Hoje, estando no grupo, me sinto realizada, e decidi trazer meu filho. Danço com ele um samba que minha avó me ensinou, partilhar este ensinamento para mim é uma forma de sentir a presença dela”, contou a modelo.
Durante a apresentação das Sambadeiras do Nordeste de Amaralina, outros elementos também são visualizados, como os pequenos pedaços de tábuas usados na mão para enfatizar as palmas durante a dança, e as vestes padronizadas com pano de chita.
“Usamos turbantes para nos diferenciar e a escolha das saias longas é para balançarmos, giramos e as pessoas se encantarem com todas essas cores. E tem funcionado, as pessoas já nos reconhecem. Eu saio no bairro e alguém já fala ‘e aí sambadeira’”, diz a integrante do grupo de samba Maria das Graças, 61, mais conhecida como Neinha.
As Sambadeiras do Nordeste já tem música com dedicatória ao trabalho realizado por elas, ao som dos compositores Bira, do grupo Resgate do Samba, e Cal, do grupo Samba Santal, o grupo tem duas músicas. Os versos da música Ding das Sambadeiras “Sambadeiras do Nordeste é um movimento cultural que acontece, vem Neinha, o que é isso Bombom, as sambadeiras do Nordeste mostrando tudo de bom” ganharam a boca do povo.
Com o hit, o grupo visitou mais de quatro bairros de Salvador, como Pelourinho, Engenho Velho de Brotas e Engenho Velho da Federação, e participou de aproximadamente oito arrastões juninos entre os dias 22 e 29 de junho, com uma agenda de apresentações marcados também para o mês de julho.
Para a também integrante do grupo, Sandra Maria, 39, os festejos juninos foram com muitas apresentações: “Todo samba que tem a gente tá junto, e no São João e São Pedro foi puro samba”.
Reconhecido como patrimônio cultural da Bahia, o samba junino é protagonista da cartilha Samba Junino - Plano de Salvaguarda, desenvolvida pela Fundação Gregório de Matos, que conta minuciosamente as raízes dos sambas juninos na capital baiana.
“O Samba Junino tem suas raízes fincadas na cultura afro-brasileira, herdeiro do samba de caboclo, tendo suas matrizes rítmicas vinculadas às evoluções do tambor. Inclusive, muitas das músicas tradicionalmente entoadas, várias delas de domínio público, advém dos terreiros de candomblé. Era justamente a vivência nesses espaços religiosos que deram os aprendizados essenciais aos músicos, através da observação, experimentação e transmissão através da oralidade”.
DANÇANDO COM A SUSTENTABILIDADE
Com 100% de reaproveitamento dos tecidos usados nas confecções das roupas das dançarinas, os materiais são direcionados para criar peças que embelezam ainda mais as apresentações.
“As roupas são confeccionadas com uma costureira aqui do bairro, ao finalizar as saias, eu pego os retalhos dos tecidos e faço o pano da cabeça e desenvolvo anéis, colares, flores e customizo as roupas dos homens do grupo”, contou Rose, responsável pelo desenvolvimento das peças.
Segundo Rose, além da responsabilidade social de ajudar o meio ambiente, fazer os acessórios é uma forma de encantar o público com acessórios únicos e gerar encomendas.
“Sempre gostei de fazer artesanato e fazer essas peças é uma maneira de ajudar o meio ambiente, mas também divulgar nossos trabalhos, então se alguém quiser uma peça dessa é só encomendar.”
Para contratar os serviços das sambadeiras basta acessar o @sambadeiradonordeste no instagram onde também é possível acompanhar os eventos que o grupo participou.
Reportagem e fotografia de Bruna Rocha
Edição de Cleber Arruda e Rosana Silva
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