[30] A importância do autocuidado do diabetes
Pacientes superam desafios para cuidar e controlar o diabetes
Nas periferias de Salvador, o autocuidado do diabetes faz parte da rotina de vida dos moradores que buscam uma boa qualidade de vida
Ao longo da semana, a musculação, a dança do ventre, além das boas escolhas alimentares são práticas imprescindíveis para a pedagoga Liliana de Fátima Aragão, 43, para manter a qualidade de vida. Moradora do bairro do Alto do Cabrito, no Subúrbio Ferroviário, de Salvador, a pedagoga teve o diagnóstico de diabetes tipo 1 há 17 anos, e conta o que foi importante após a descoberta da doença.
“Aceitar o diabetes é uma das coisas imprescindíveis. Quando nos damos conta que temos que fazer o que ninguém vai fazer por nós, passamos a ter maior cuidado”, afirma.
Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil tem 16,8 milhões de pessoas adultas com diabetes (de 20 a 79 anos), uma síndrome que pode ser congênita ou adquirida e se caracteriza pela alta concentração de glicose no sangue.
O diabetes tipo 1 é causado pela destruição das células que produzem insulina, provocada por um defeito no sistema imunológico. O diabetes tipo 2 é causado pela resistência à insulina e deficiência na sua secreção. São alguns dos sintomas do diabetes: fome constante, sede excessiva, vontade contínua de urinar, perda de peso, fraqueza, náusea ou vômito. O cuidado da saúde é fundamental para evitar as complicações causadas pela doença.
Morador do bairro de Pernambués, o administrador e graduando em direito, Adilson Sousa, 49, após o descobrir o diabetes do tipo 1, também mudou o estilo de vida, embora tenha rejeitado o diagnóstico inicialmente. “Eu era jogador juvenil do Bahia, numa pré temporada. Naquela época, não aceitei [o diabetes], mas, hoje, tenho outra cabeça e faço o tratamento com tranquilidade”, conta Adilson.
A psicóloga Catiane das Neves explica que a descoberta de uma doença crônica transforma a vida do paciente, da família, fazendo com que necessite de um período para reflexão.
“A pessoa tem uma perda significativa na vida [...], perde uma idealização de saúde, da vida, e da liberdade alimentar. É importante que a pessoa tire um tempo para entender o que significa o diabetes e, assim, possa ressignificar a sua vida após o diagnóstico”. Catiane frisa que o acompanhamento psicológico e uma rede de apoio são importantes neste processo.
As informações equivocadas sobre a doença também são responsáveis por provocar a rejeição ao tratamento, como explica a professora do curso de nutrição da Universidade Federal da Bahia e educadora em diabetes, Viviane Sahade.
“Há uma ideia que se propaga de que a pessoa com diabetes não pode comer alimentos à base de carboidratos (arroz, massa, pão, batata, farinha…). Isso é um grande equívoco e só promove medo e insegurança”.
Aos pacientes que têm rejeição ao planejamento alimentar, a Viviane aconselha a buscar um nutricionista especialista em diabetes. “Com certeza elas irão perceber que as orientações necessárias são bem mais simples do que elas imaginam”.
ALIMENTAÇÃO SEM MEDO
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Para Liliana, conhecer mais sobre o diabetes trouxe um novo olhar para a alimentação. “Precisamos nos alimentar de forma correta e balanceada. Quanto mais conhecimento temos, vemos que podemos comer tudo. Não é aquela coisa limitada, como muita gente fala”, conta Liliane. A pedagoga usa a estratégia da contagem de carboidratos, que possibilita um melhor controle do diabetes.
“A contagem de carboidratos é uma estratégia nutricional que oferece à pessoa com diabetes maior flexibilidade em sua alimentação, bem como estabilidade da glicemia, de acordo com seu estilo de vida [...] A pessoa entende a relação do seu corpo com o alimento e com a ação da insulina. Diante disso, muitos tabus são quebrados e a qualidade de vida melhora significativamente”, explica a nutricionista.
Adilson tem privilegiado alimentos in natura e evitado os chamados carboidratos simples.
“Eu sempre procuro ter variedade na minha alimentação. O que mais gosto de comer, de maneira geral, são frutas, verduras e carboidratos com proteína. É muito difícil comer carboidratos simples, que elevam a glicose rapidamente, como pão, macarrão etc”.
A nutricionista aconselha que as pessoas com diabetes prefiram alimentos in natura e minimamente processados, consumam frutas, legumes e verduras preferencialmente crus, reduzam e evitem o consumo de alimentos ultraprocessados, bebam água e evitem consumo de bebidas açucaradas e também prestem atenção aos rótulos dos alimentos.
CUIDADOS PARA O CORPO E MENTE
A atividade física traz benefícios para pessoas com diabetes. De acordo com o livro Autocuidado em Diabetes, da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), a rotina de exercícios melhora o controle metabólico do diabetes. A rotina de exercícios tem feito bem a Liliana.
“Eu faço a dança do ventre e, de segunda a sexta-feira, vou para a musculação. Vou para academia, mas tenho que comer direito, porque à noite parece que o corpo quer repor tudo o que gastou”, conta.
Liliana tem tomado os cuidados necessários, quando vai para a academia, e tem aprendido quais exercícios podem interferir de maneira significativa na glicemia.
“Perguntei a meu professor quais exercícios podem provocar hipoglicemia ou hiperglicemia. Ele diz que quando for malhar a perna, por exemplo, traga algum doce para comer, porque vou fazer maior esforço”.
“Eu sempre estou com aparelho para verificar a glicose, porque pode acontecer uma hipoglicemia. Tenho essa atividade todos os dias e no dia em que não vou, já percebo a diferença”, conta.
O acompanhamento psicológico, para o cuidado das emoções, também tem sido indicado às pessoas com diabetes, pois contribui no controle da glicemia. Adilson explica que a busca pela psicoterapia não tinha relação direta com o diabetes, mas, por conta da sua melhora enquanto pessoa.
“Eu acessei mais a psicoterapia para lidar com questões pessoais, na busca por mudar enquanto pessoa e ser humano, além de lhe dar uma nova visão para lidar com alguma doença [...] Devido a psicoterapia, ao invés de agir de forma agressiva ou petulante, tenho observado antes de agir”, explica.
Segundo a psicóloga Catiane, as emoções podem interferir no controle da glicemia, por que podem mexer nos pensamentos e atitudes. “No caso da diabetes, estudos mostram que fatores como ansiedade e depressão podem influenciar os níveis de açúcar no sangue e, consequentemente, na qualidade de vida. Além disso, estados depressivos ou ansiosos dificultam a conexão da pessoa com o presente, interferindo diretamente na manutenção do autocuidado, algo indispensável nos casos das doenças crônicas”, enfatiza.
Para Liliana, o cuidado das emoções faz parte do autocuidado, conhecimento adquirido nas sessões de psicoterapia. “Lembro de a psicóloga dizer que o emocional é também quando ficamos muito preocupados e, por isso, esquecemos de beber água, de comer na hora certa, o emocional pode interferir na nossa rotina. Mas, é importante se cuidar e manter a disciplina que é a base para termos bons resultados”.
Reportagem de Rosana Silva
Fotografia de Bruna Rocha
Edição de Cleber Arruda
Entre Becos nas Redes
A última reportagem sobre o trabalho do Grupo de Mulheres do Alto das Pombas com a juventude do bairro, serviu de inspiração para uma reportagem sobre a mesma temática na TVE (Televisão Educativa da Bahia) e foi republicada pelo Portal Umbu.
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