Grupo de mulheres atua na formação de adolescentes no Alto das Pombas, em Salvador
Dentre as ações realizadas pela organização estão as aulas preparatórias para o processo seletivo do Instituto Federal da Bahia (IFBA).
No bairro do Alto das Pombas, em Salvador, um grupo de adolescentes compartilha seus sonhos e anseios em busca de um futuro com mais oportunidades e direitos. Entre eles, Isnaia Catharina, 16, uma adolescente que encontrou no Grupo de Mulheres do Alto das Pombas, o Grumap, incentivo para perseguir seus objetivos.
Nascida e criada no bairro, Isnaia conta que conheceu o Grumap, através das aulas de teatro oferecidas pela organização. Ela destaca a importância do grupo no bairro.
“Às vezes é desafiador ser moradora do Alto das Pombas, por conta de todas as questões voltadas à segurança pública e à estrutura. Mas as ações do Grumap, nos deixam com orgulho de pertencer, nos incentivam a buscar sempre o nosso melhor.”
O Grumap é uma organização fundada em 1982, por um grupo de mães do bairro, que lutavam pela criação de creches no Alto das Pombas. Hoje o grupo tem focado na formação e no cuidado da comunidade por meio de oficinas e encontros. Dentre as ações, estão as aulas preparatórias para o processo seletivo do Instituto Federal da Bahia (IFBA).
Desde o mês de agosto, as aulas “pré-IFBA” são realizadas duas vezes por semana, e reúnem 17 estudantes do bairro do Alto das Pombas e também do vizinho Calabar. Os encontros são ministrados por professores parceiros da organização, e alguns professores do bairro. A atividade faz parte da campanha “Declare Amor à Educação e pelo Bem Viver”, onde o Grumap tem realizado uma série de atividades para fortalecer a comunidade através da educação, desde a pandemia de Covid-19.
Uma das ações realizadas pelo Grumap durante a preparação para a seleção foi viabilizar a visita dos jovens ao IFBA, campus Salvador, localizado no bairro do Barbalho. Isnaia, conta com entusiasmo sobre o momento. “Essa experiência foi incrível, eu amei e só me deu mais vontade de estudar para ter um futuro melhor. Não só isso, mas também achei muito interessante a iniciativa das educadoras de nos ajudarem na preparação para o processo seletivo. Foi ótimo!” .
Sarah Victoria, 14, não fará o processo seletivo neste ano, mas acompanhou a visita até o IFBA e está na torcida pela aprovação dos companheiros. “A professora Aila nos falou sobre todas as coisas incríveis que encontraríamos lá no IFBA, e, ao chegarmos, a realidade superou todas as nossas expectativas. Eu ficarei aqui torcendo para que todos eles tenham sucesso na prova, para que a gente se encontre lá ano que vem, pois eu também quero passar.”
Aila Cristina, geógrafa, ativista do Grumap, e também ex-aluna de um instituto federal, explica que a iniciativa, além de apresentar o conteúdo programático e a estrutura da avaliação, tem trabalhado a autoestima e os sonhos dos participantes. “A gente sabe que há uma série de fragilidades no processo de escolarização destes jovens, então nos sentimos na obrigação de prepará-los minimamente. Ao responder as provas (dos processos seletivos anteriores), eles percebem que sabem o conteúdo e, muitas vezes, só falta a interpretação de texto, a confiança, coisas que a escola pública acaba não potencializando nestes nossos jovens”, relata Aila.
A preparação para o processo seletivo do IFBA não é a única ação do Grumap relacionada à formação de crianças e jovens. A partir da mobilização das participantes ou parcerias, hoje acontecem oficinas de literatura, teatro, música e cinema, onde os jovens estão sendo provocados a construírem um documentário sobre o Grumap. “Neste ano, realizamos oficinas de fotografia, oficinas de roteiro geral, oficina de roteiro para curta metragem e agora estamos construindo um documentário. É uma troca muito intensa, muito afetiva, viva, política. É uma escolha política também estar com esses jovens nesse lugar de trocas.”
Rafaela Jesus, 16, conheceu o Grumap através do convite para frequentar as aulas de teatro. Desde então, tem se envolvido ativamente nos projetos do grupo, inclusive nas aulas preparatórias para o IFBA. "Estar no Grumap faz a gente desenvolver essa vontade de sonhar, de construir um futuro para a gente. Eu sei que tem muitas pessoas a quem não é permitido sonhar, mas aqui a gente prova o contrário. Provamos que a gente deve sonhar sim!"
Luciana Silveira, uma das dez mulheres que fazem parte ativamente do Grumap, explica que o desafio na formação de jovens é grande, mas que é uma das metas do grupo.
“Nosso foco sempre foi o bem viver da comunidade. Acreditamos que, ao capacitar os jovens com habilidades e conhecimento, estamos investindo no futuro não apenas deles, mas de todo o Alto das Pombas. Isso é um pilar fundamental do nosso trabalho.”
MUITA HISTÓRIA PARA CONTAR
Hoje se mantendo com o apoio de editais e também como o “pix solidário” de parceiros da comunidade, o Grupo de Mulheres do Alto das Pombas tem se dedicado à potencialização da juventude negra, criando um ambiente onde as questões raciais e de gênero são centrais.
Na década de 90, por exemplo, mais de 150 mulheres saíram em marcha do Alto das Pombas até a casa do então governador, no bairro da Graça, onde exigiam a permanência e ampliação do Colégio Tertuliano de Góes, localizado no Alto das Pombas. Exemplo que para Luciana, mostra o compromisso da instituição com a comunidade.
“A educação sempre foi um ponto muito forte para o Grumap. Além de apoiar as escolas e exigir do poder público ações para o Alto das Pombas, temos uma história muito forte de formação. Muitas mulheres e crianças passaram por algum curso, palestra ou oficina aqui. Isso interferiu bastante na autoestima da comunidade, pois possibilitou, principalmente, que as pessoas tivessem uma forma de ter renda em seus lares.”
Unidas, as mulheres do Alto das Pombas também foram a luta pela construção de uma creche pública no bairro, na década de 80. Uma disputa que ficou marcada pela prisão de uma mãe da comunidade. Memórias dessas lutas são trazidas por Rita Pereira Santos, a Ritinha, que além de ser uma das integrantes do grupo, acompanhou as histórias vividas pela sua mãe que também integrou a instituição.
“As mulheres do Grumap são verdadeiras defensoras dos direitos humanos. Aqui é esse espaço de luta por direitos da nossa comunidade. Aqui que as nossas mais velhas conquistaram espaço e é daqui que continuamos lutando, para a construção de uma sociedade de Bem Viver”, afirma.
Reportagem de Brenda Gomes
Fotografia de Bruna Rocha
Edição de Cleber Arruda e Rosana Silva
CONTRIBUA COM A ENTRE BECOS
Somos um grupo empenhado em produzir reportagens relevantes a partir da vivências dos bairros populares de Salvador, na Bahia. Atuamos de forma independente e contamos com sua contribuição para cobrir nossas despesas básicas e seguir produzindo. Se puder, invista em nosso trabalho através da chave pix: entrebecosba@gmail.com
Se não pode ajudar financeiramente, compartilhe as reportagens e troque conosco em nossas redes sociais.
Que iniciativa incrível!