[23] Julho das Pretas nas Escolas
Professoras põem em prática o ensino das culturas negras no Julho das Pretas
Colégio Estadual Polivalente de Amaralina e Escola Império do Saber realizam atividades educacionais para valorização da mulher negra latino-americana e caribenha
Rodas de conversas, palestras e ações de conscientização sobre o julho das pretas são algumas das atividades realizadas na sala dos alunos do Colégio Polivalente de Amaralina, localizado no bairro Nordeste de Amaralina, em Salvador. O colégio público de ensino médio celebra com as ações o 25 de Julho, Dia da Mulher Latino-Americana e Caribenha.
“Na escola é uma forma de reconhecer e valorizar a história e o legado de Tereza de Benguela, bem como de refletir sobre a luta e a resistência dessas mulheres”, conta a professora de inglês Marielli de Jesus, 46.
A comemoração internacional do dia 25 de julho surge em 1992, ano do 1º Encontro de Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas, realizado em Santo Domingos, na República Dominicana. A assembleia, além de propor a união entre as mulheres, buscava também denunciar o racismo e machismo não só nas Américas, mas também em todo o mundo.
Diante da história que rodeia a data, Luciana Pita, 40, coordenadora pedagógica do polivalente, levou o assunto às turmas para reflexão.
“A gente busca dialogar com nossas meninas em sua totalidade sobre os desafios que silenciam nossas vozes".
A escola particular de educação infantil e ensino médio Império do Saber, localizada no bairro do São Caetano, também propõe uma educação humanista. Ao todo mais de 25 professores estão comprometidos com essa missão, segundo Daiana Maria Ribeiro, 40, assistente social e orientadora da instituição de ensino.
“Precisamos abordar o tema da discriminação racial, não existe datas específicas, mas sim um trabalhado continuo. As escolas precisam falar diariamente sobre educação antirracista, combater fielmente".
No Colégio Império, este é o segundo ano com ações voltadas para o dia 25 de julho.
“São realizadas atividades diversas, como palestras com pais dos alunos, rodas de conversas, exibição de filmes como "Meninas negras - Consciência Negra” , dinâmicas entre bonecas pretas e brancas, desfiles de moda e discussão sobre canções como ‘Negras Perfumadas do Ilê Aiyê’", destacou Daiana.
As atividades estão concentradas por todo mês de julho, com ênfase no dia da mulher negra, afro-latina e caribenha. Além disso, a escola também abriu espaço para que instituições, como a Odara - Instituto da Mulher Negra - promovesse atividades que pudessem tratar das formas de superar o racismo, neste mês.
"Não só o dia 25 de Julho ou 20 de Novembro são obrigatórios para falarmos e implementarmos essa prática pedagógica. É preciso falar sobre as heroínas pretas, trazer representatividade e pertencimento para os alunos. Só assim, iremos combater de forma incisiva o racismo, junto ao sexismo e outros conjuntos de preconceitos e discriminações", enfatizou Daiana.
FORMANDO GRANDES MULHERES
Estudantes que tiveram acesso ao educação antirracista destacam a importância da prática. Maria Eduarda, 18, estudante do terceiro ano e participante do grêmio estudantil do colégio Polivalente, explica como foi conhecer personagens importantes apagados pela história.
“É essencial para nós jovens tenhamos conhecimento das nossas matrizes e das conquistas da comunidade negra. Sabemos que muitas mulheres negras contribuíram e contribuem para o desenvolvimento do mundo, como a Dra. Sonia Guimarães e a Dra Jaqueline Góes”, diz Maria Eduarda.
Já a estudante da instituição, Samara De Jesus, 17, explica que já conhecia a data, mas destacou a necessidade de expandir esse conhecimento.
“O dia 25 de julho foi um dia marcado pela luta e resistência da mulher negra pelos seus direitos. É gratificante poder estudar sobre outras mulheres como eu na escola. Lá eu tenho um espaço e a oportunidade de ampliar os meus conhecimentos e direitos, além dos conceitos históricos da comunidade negra", conclui a jovem.
Para a professora Marielli, dar visibilidade e possibilitar que jovens negras conheçam figuras femininas importantes, contribui para formar outras mulheres negras agentes de transformação na comunidade. “Estamos contribuindo para a formação de cidadãs e cidadãos conscientes e comprometidos com a luta pela equidade e pela justiça social", finaliza a pedagoga.
Reportagem e fotografia de Bruna Rocha
Edição de Cleber Arruda e Rosana Silva
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