[21] Um São João gostoso e rentável
Pratos juninos saudáveis entram no cardápio de empreendedoras das periferias de Salvador e região metropolitana
Licor de aipim, pão artesanal e outros quitutes com produtos orgânicos são apostas para ganhar uma renda extra nas festas da época
De olho nos festejos, empreendedoras do ramo alimentício das periferias de Salvador estão apostando em pratos juninos preparados com produtos saudáveis e diferenciados.
Mameto Laura Borges, 45, gastrônoma com especialização em comida africana, ganhou destaque com a criação de licores artesanais feitos com produtos plantados no próprio terreiro, no Tupã Suriazala, em Itinga, bairro popular da região metropolitana de Salvador.
O tempo da produção exige preparação e planejamento. As manivas de aipim, por exemplo, levam cerca de seis a nove meses para crescerem. “Para as manivas do aipim nascerem é quase um parto, mas o resultado são raízes lindas e muito boas”.
Essas raízes são utilizadas para a produção de licor. “Com a especialização, não poderia deixar de usar a raiz, que é um grande alimento trazido pelos povos africanos; com ela nasce um licor suave e muito bem aceito", explica.
A publicitária Michelle Fraga, 47, conheceu os produtos em 2020 e se tornou cliente. "São de excelente qualidade. O fato de produzir a partir do que plantou tem um diferencial importante. No São João, gosto muito de comprar bolo de milho verde, aipim e licor", conta.
Além de vendas locais, as receitas de Laura também são comercializadas em feiras pela cidade. “Na feira solidária em Lauro de Freitas, zeramos o estoque nos seis dias. As pessoas iam à nossa barraca só por causa desta gastronomia, em que o produto também tem zero adição de açúcar”, conta a mameto.
A qualidade dos ingredientes também é uma prioridade na culinária da técnica em alimentos Rita de Cerqueira Fernandes, 56. Moradora do bairro de Castelo Branco, ela vende uma variedade de pães artesanais feitos com fermento natural, na loja dos Produtos da Rita, próxima à sua residência.
“O pão artesanal não tem química, porque uso somente a farinha, sal, água, sem adição de açúcar. Ele leva de 12 a 24 horas fermentando para depois ser assado, por isso traz uma sensação de saciedade.Também evita o estômago estufado, porque o processo de fermentação ocorre fora do corpo. Para que o alimento seja nutritivo, uso também farinha de linhaça, chia, moringa, sementes de abóbora. Posso acrescentar outros vegetais, como ora-pro-nobis, que tem alto teor nutritivo”, explica.
Para as festas juninas, Rita destaca que todas as receitas levam apenas leite vegetal. “Nos produtos juninos somente uso leite de coco. A canjica é feita com leite de coco, além das especiarias, como canela e cravo”, revela.
Cliente há anos de Rita, a professora Iracema Couto, 57, já encomendou a canjica para saborear nos próximos dias. “Sou evangélica e não comemoro o São João. Mas, como sempre essa canjica, então, não faz mal”, brinca.
Iracema ressalta que acompanha de perto a trajetória culinária de Rita e elogia o cardápio. “Rita é uma vizinha que conheço há 14 anos. Ela começou a estudar, fazer cursos e sempre falava sobre os alimentos saudáveis que fazia e me ofereceria. São produtos gostosos, como quibe, pamonha, canjica, bolos, geladinhos, refrigerantes, tudo isso com muita nutrição”, conta Iracema.
As vendas de Rita não se restringem ao bairro de Castelo Branco. “Tenho clientes do bairro, de 7 de Abril e até de Pernambuco. "Quando minha filha vem de Recife, ela traz a lista das encomendas de pães dos clientes”.
O aumento no ramo alimentício já era esperado. Segundo dados da Central de Abastecimento de Salvador (Ceasa), no São João são comercializadas 1.780 toneladas de amendoim e milho, que são usadas para festas e empreendedores. E, para aproveitar o aquecimento das vendas, muitos negócios se adequam para a produção de comidas típicas.
Reportagem de Rosana Silva e Gabrielle Guido
Fotografia de Bruna Soares
Edição de Cleber Arruda
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