“Vôlei da Onça” mobiliza moradores do bairro de Sussuarana
Mesmo no improviso, grupo se reúne para a prática esportiva
O “Vôlei da Onça”, projeto organizado pelo historiador Elson Praxedes Jr., 26, surgiu da vontade de resgatar o hábito existente entre os moradores da rua onde morava. A prática do esporte acontecia em um campo de barro, que existia atrás das casas dos moradores. Mas, com o passar do tempo, o grupo foi se dissolvendo.
Em 2021, eles se reencontram novamente. O momento teve a presença de moradores que participaram da primeira formação do grupo de vôlei, mas os personagens principais foram as crianças. “Muitas crianças na rua gostam de jogar futebol, andar de bicicleta, entre outras coisas. Embora não tivessem contato com o esporte, elas receberam o vôlei muito bem, o que nos surpreendeu”, conta Praxedes.
Geralmente aos sábados, os encontros acontecem em um campo de barro e reúnem entre doze a quinze pessoas. Além do espaço pouco adequado, a estrutura improvisada da rede e a bola desgastada demonstram as dificuldades que o grupo enfrenta.
“Seria primordial ter um espaço seguro e fixo para jogar, porque estamos em um lugar aberto e ficamos muito expostos. Temos algumas bolas e redes que foram doadas, mas são coisas que precisam ser renovadas com o passar do tempo. Nós tentamos arrecadar um valor mensal entre os participantes, mas nem sempre é possível ser pago pelas pessoas.”
A maioria dos participantes do grupo ainda é do gênero masculino. Mas isso não intimida a promotora de vendas Vitória Caroline, 22, que afirma que a prática esportiva têm impactado a sua rotina positivamente. “Muitas vezes fui a única mulher jogando em campo e em nenhum momento me senti desconfortável ou desrespeitada. É um esporte para toda a família. Bem tranquilo para todas as faixas etárias.”
DIRETO AO LAZER
A dona de casa e moradora do bairro, Mariluse Cruz, 41, soube do “Vôlei da Onça” através dos vizinhos e foi se informar como poderia incluir o filho Gilson Cruz,13, que prontamente criou gosto pelo esporte.
“Eu não sabia como era jogar vôlei, só o que eu via na televisão. Mas cheguei lá e eles me ensinaram. Me empenhei também para aprender as jogadas. É um momento de lazer muito bom”, relata Gilson.
Apesar da sua extensão territorial e populacional (mais de 53 mil habitantes*), Mariluse afirma que Sussuarana não possui espaços e atividades de lazer suficientes, por negligência da administração pública.
“Há uma falta de cuidado muito grande dos governantes em relação a lazer no nosso bairro. O vôlei foi uma saída muito boa. Se acontecesse em um lugar mais adequado, poderia abranger mais pessoas e impactar mais gente.”
QUALIDADE DE VIDA E IMPACTO SOCIAL
O estudante de educação física Caio Tolentino, 21, acredita que a reunião do grupo tem gerado outros impactos para a comunidade, que vão além da prática esportiva. “O esporte, por si só, já faz grandes mudanças na vida de qualquer pessoa. Mas eu comecei a ver a mobilização das crianças na rua para participarem, então percebi que a transformação pelo esporte pode alcançar mais pessoas.”
Vitória Caroline ainda destaca que, se usado de forma estratégica, o esporte é capaz de afastar a comunidade, as crianças, em especial, das violências que muitas vezes os bairros populares estão inseridos.
“ O nosso vôlei é aberto ao público, qualquer pessoa pode participar. Se tivesse mais estrutura, investimento e divulgação, alcançaria mais pessoas e seria mais aproveitado.”
Em contato com a Secretaria Municipal de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esportes e Lazer, a reportagem do Entre Becos questionou sobre a ausência de quadras na região de Grande Sussuarana, mas não obteve retorno. No site da instituição é possível verificar a relação dos equipamentos e estruturas esportivas geridas pela Prefeitura de Salvador, nenhuma delas está localizada na região. (Acesse aqui para conferir)
Informações e horários do Vôlei da Onça são divulgadas na página @voleidaonca.
*Dado do Plano Plurianual de Salvador - PPA 2018/2021 disponível clicando aqui.
Reportagem de Brenda Gomes
Edição de Cleber Arruda e Rosana Sila
*esta reportagem foi publicada excepcionalmente na sexta-feira
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