[09] 13° salário: poupança, laje e festa
Poupar, festejar e bater a laje são planos para o 13º dos soteropolitanos
Do pagamento de dívidas até investimentos, para os moradores de periferia a renda extra é sempre indispensável
À espera da segunda parcela do 13º deste ano, o auxiliar de expedição Jandson César, 29, conta que a primeira já foi gasta para pagar as dívidas acumuladas com a construção da laje da sua casa. “Como sempre estou tendo que investir ou pagar alguma coisa, nunca sobra!”, diz o morador de São Marcos, periferia de Salvador.
O último dia 30 de novembro foi o prazo limite para o pagamento da primeira parcela do décimo terceiro salário para os funcionários contratados em regime CLT, ou seja, com carteira de trabalho assinada. A segunda parcela deve cair até o dia 20 de dezembro.
Com o adiantamento do benefício, Jandson quitou boa parte do empréstimo familiar realizado para dar andamento nas obras. No espaço, ele pretende construir um bar e restaurante, com o objetivo de gerar uma renda extra.
“Estou investindo nesse negócio pelo fato de eu poder ter, daqui a uns dois meses, algum retorno desse dinheiro, que eu possa tirar algum proveito deste 13º e não gastar com futilidades”.
O empréstimo familiar foi uma forma de escapar dos juros bancários, que ele considera alto e dos riscos de ter o nome negativado.
Conforme o Mapa da Inadimplência e Negociação de Dívidas no Brasil, desenvolvido pelo Serasa, os dados do relatório de setembro deste ano mostram um aumento de 411 mil novos inadimplentes, frente aos 340 mil registrados entre os meses de julho e agosto. Crescendo pelo nono mês consecutivo, o indicador de inadimplência aponta 68,39 milhões de brasileiros com o nome restrito.
A educadora financeira Cinara Santos destaca como prioridade o uso da verba extra na negociação ou quitação de dívidas.
“Priorize a dívida que tem a maior taxa de juros, como o cartão de crédito ou cheque especial, e não esqueça de negociar possíveis descontos. Caso você tenha algum financiamento é interessante usar o 13° para amortizar parcelas”.
Ela sugere um passo a passo para aproveitar melhor o recurso. O primeiro deles é conhecer a real situação financeira, verificar se as contas estão em dia, se há dívidas e despesas urgentes. O segundo passo é separar uma parte do 13° (30% a 50%) para as despesas de janeiro (IPTU, IPVA, matrícula de escola, etc.).
Por último, ficam os mimos, caso as contas estejam equilibradas. “Separe uma parte para comprar algo para si, afinal de contas não faz sentido trabalhar e não ser recompensado (a), não é?”, considera Cinara.
O estoquista Matheus Paim, 23, morador de Sussuarana, conta que geralmente usa o dinheiro extra para pagar dívidas, mas, neste ano, também planeja celebrar o réveillon com a renda. “Pretendo quitar uma parte de meus débitos com a primeira parcela e a segunda parcela comprar roupa e alimentação para as festas de fim de ano".
Para quem quer ir às compras, Cinara recomenda fazer sempre uma lista de tudo o que vai adquirir, com limites de gastos estabelecidos, sem desrespeitá-los para não cair em tentação e desequilibrar as contas.
“Primeiro você precisa saber estabelecer prioridades. É muito comum cair nos apelos de consumo do comércio e gastar além do limite, muitas vezes, por impulso e não por necessidade”, alerta.
Em dias com as contas, a jornalista, Brenda Cruz, 24, também moradora de Sussuarana, ressalta a importância do benefício.
“Diante do cenário que a gente vem enfrentando nos últimos anos, ainda mais para nós pessoas pretas que estamos quase sempre entre um CLT, um empreendimento e/ou outras formas de construir uma renda extra, contar com esse benefício é um alívio”.
Ela planeja reservar boa parte da verba para emergências e planos futuros. “Por aqui, vai cair na conta que uso para investimentos e aplicações, e logo mais, sairá de lá para agilizar realizações e sonhos, não tem outra”, garante Brenda.
Para a educadora financeira, manter reservas para emergências e investir em aplicações financeiras são sempre excelentes opções. Além disso, ela dá dicas sobre como aproveitar os festejos para multiplicar o décimo terceiro.
“Aquelas pessoas que têm habilidades com vendas, artesanato de modo geral, produtos natalinos, têm uma excelente oportunidade de fazer uma renda extra, durante os festejos de final de ano”, considera Cinara.
A consultora financeira observa a necessidade de colocar na ponta do lápis as despesas gastas no empreendimento e ter uma atenção especial à demanda de mercado.
“Antes de fazer investimento em algo para vender ou em matéria prima para produzir algum produto, calcule o custo e precifique considerando todos esses custos para não ter prejuízo. As opções mais procuradas costumam ser produtos alimentícios, como bolos , panetones , doces e salgados de festas, artigos natalinos, roupas, cosméticos e itens que servem de brindes ou lembrancinhas”, indica Cinara.
Reportagem de Joyce Melo
Fotografia de Joyce Melo e Moisés Neuma
Edição de Rosana Silva e Cleber Arruda
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