[08] Horta comunitária em Castelo Branco
Moradores de Castelo Branco colhem os frutos de uma horta comunitária
Horticultores, voluntários e comerciantes da comunidade trabalham para manutenção e continuidade da horta
Coentro, batata, pimentão, tomate, alface roxo são alguns dos alimentos cultivados na horta comunitária, localizada em um terreno do Centro Social Urbano (CSU), de Castelo Branco, em grande maioria, por moradores do bairro, na periferia de Salvador. O aposentado Nelson Emílio José Dantas, 74, é um deles.
Horticultor experiente, Nelson trabalha no terreno desde 2016. “Já tinha uma hortinha aqui, porque a gente tentou incrementar com a galera daqui do bairro”.
A produção de alimentos é uma das vantagens do cultivo das hortas. Por isso, em 2018, uma parceria do CSU com a associação Humanas Brasil resultou na revitalização e ampliação da horta com novos canteiros, como explica Nelson.
"O objetivo da Humana é a horta comunitária em benefício da comunidade. Então, normalmente, o que é colhido aqui é vendido a preço módico. Mesmo sendo orgânico."
A dedicação para manter a horta precisa ser diária. Nelson e os outros cinco trabalhadores, contratados pela associação, começam o serviço antes das sete horas da manhã e saem às dezessete.
Isso se justifica por conta das etapas de trabalho para garantir a qualidade, como explica o técnico em agropecuária Júlio Velami, 58, morador de Castelo Branco.
“Temos um viveiro onde produzimos as nossas próprias mudas. Fazemos o plantio e, no tempo correto, o transplante para o local definitivo, os canteiros. Antes, preparamos o solo, com análise e adubação orgânica, porque não usamos produtos químicos”.
Atualmente, Nelson aguarda o crescimento das verduras, hortaliças e frutas. “Temos uma plantação de batatas e dá para tirar mais de um quilo. Temos alface manteiga, aquela molezinha que todo mundo gosta. E tem alface roxa, a crespa, que é mais encorpada”, enumera.
Na pesquisa Hortas Urbanas Comunitárias em Salvador: Organização trabalho e alimentos, Joeli Souza, 35, pesquisadora e nutricionista, aponta os desafios para manutenção das hortas em bairros populares de Salvador, mas também ressalta seus benefícios.
“Com mais pessoas em vulnerabilidade econômica, poder comprar um alimento fresco que, muitas vezes, não faz parte da alimentação é realmente um benefício imensurável”, afirma.
APOIO COMUNITÁRIO
Morador de Castelo Branco, o porteiro Jair Almeida, 53, em seus dias de folga do trabalho, atua como voluntário na horta. “Eu comecei a participar, pelo fato de ser um projeto que não vai afetar a saúde de ninguém com agrotóxico". Jair explica o diferencial encontrado nos alimentos que consome da horta.
“Há uma diferença na cor, no cheiro, principalmente, no coentro, que é diferente do que é comprado no mercado''.
Para realizar serviços na horta, um mutirão ocorre a cada quinze dias, às sextas-feiras. O porteiro conta que o evento chega a reunir até 18 voluntários da comunidade.
“Tem uma equipe boa, pessoas com muita vontade de trabalhar e de ajudar. Tudo o que é colhido, nós também consumimos. Às vezes, até no almoço [do mutirão] fazemos uma salada, pegamos as coisas orgânicas na hora e é muito bom.”
Para a nutricionista Joeli Souza, os benefícios trazidos pela horta vão além da produção de alimentos. "Não é só a questão de plantar e ter um alimento mais fresco, o contato com a terra vai muito além. Existe a questão terapêutica".
Nelson explica que o apoio a horta também chega por parte dos comerciantes locais. O mercado Sobarrampa doa os ingredientes para a compostagem que resulta em substrato, adubo para a plantação. “Ontem mesmo, trouxeram cebola, tomate, abóbora, casca de uva. A gente bota aí e espera que dá. ” Outros empresários locais também colaboram como podem.
Uma loja de materiais de construção empresta o caminhão para buscar a terra vegetal em Lauro de Freitas, cidade da zona metropolitana de Salvador. “A mãozinha com o transporte ajuda a diminuir o custo de produção que subiu muito atualmente”. Segundo Nelson, o preço da terra vegetal comprada para a horta dobrou.
Outro apoio vem dos feirantes de Castelo Branco. Eles vendem as hortaliças da horta e fazem a preço de custo, o que ajuda a manter o valor dos alimentos mais baixo na comunidade, mesmo sendo orgânicos.
A HORA VERDE
Uma das atividades mais esperadas da horta é a “Hora Verde”, porque envolve as crianças e jovens da comunidade.
“O acesso das crianças no projeto da horta já está em execução. Elas participam dos cursos que tem dentro da Humana Brasil, como karatê, jovens aprendizes e jovens do futuro”.
Joeli explica que é importante a criança saber de onde vem o alimento que ela vai consumir. “Muitas hortas escolares faziam o dia da colheita e essas crianças podiam comer esse alimento. E também despertar nas crianças a questão da educação ambiental, o cuidado com a terra, o cuidado com a água. A possibilidade de reutilizar cascas, folhas para adubar esses alimentos."
Segundo Nelson, a Hora Verde é um espaço para a educação ambiental, em que os conhecimentos sobre o fazer da horta são compartilhados. “Na aula, ensinamos a semear, a fazer o plantio. Explicamos o que é um adubo, como se faz”.
Essa é a atividade preferida de Nelson, por causa do interesse que a aula desperta nas crianças. “Se interessam mais do que adultos. Eu acho bacana a curiosidade da criança de cinco, seis, sete anos, dez anos. Pegam logo a ferramenta para cavar a terra”, conclui.
Assim a horta dos moradores de Castelo Branco permanece viva e alimenta a comunidade. O atual projeto de Nelson e seus companheiros é fazer vingar os pés de caju, abacate e tangerina. Falta adubo, a terra está um pouco ácida, mas o aposentado não para de trabalhar pelos frutos do futuro.
Reportagem e Fotografia de Moisés Neuma
Edição de Rosana Silva e Cleber Arruda